Desde o momento que souberam que estava grávida, várias amigos que me conheciam bastante bem, tiveram basicamente a mesma reacção. “Estás grávida? Tu? Estás a brincar! Não acredito! A sério?? Porra… sempre imaginei que fosses a última pessoa a quem isso viesse a acontecer!”. Não é que não tivessem ficado contentes por mim. Ficaram foi, antes de tudo o resto, muito surpresos.
Surpresa fiquei eu também, ao constatar essa coerência de pensamentos em torno da minha pessoa. E até entendo, até certo ponto. Nunca fui do tipo caseira nem casadoira, já agora. E os amores eram muitos. Da dança à música, da fotografia aos computadores, dos cavalos e quase todos os outros bichos ao bicho homem – que também lá andava, por entre os meus amores –, das faculdades às direcções associativas, tunas e orfeões, todos eles me ocupavam muito do meu tempo. E, muitas vezes havia, que o tinha de reinventar – o tempo, digo. Tenho consciência, portanto, do meu estado de hiper-actividade, da mesma forma que tenho a certeza que o meu dia, por essa altura, tinha no mínimo 28 ou 29 horas – pelo menos!
Uns tempos passaram e eu, ainda assim, não parava. A certa altura já ia no 2º curso universitário, já trabalhava e continuava num ritmo (já só) meio acelerado. É que, parecendo que não, o trabalho rouba-nos muito do nosso tempo… Um pecado! :D
Quando engravidei estava ainda 2 anos de acabar o curso e lembro-me de pensar: Estás louca! Louca! Com o bebé a nascer em fins de Maio – senão antes –, vais andar a fazer um sacrifício doido que – com jeitinho – se torna inglório. Ainda chumbas de ano! Ao menos paravas e sossegavas este ano. Pois sim, nada disso :) Não parei. Corri ainda mais, mas sempre com um sorriso de orelha a orelha e uma vontade férrea que vinha do âmago do meu ser. E vá lá… deixei apenas uma cadeira para trás. Não parei mas mudei muito – tanto física como emocionalmente. De repente havia sido dado início a um processo irreversível, que faria de mim uma pessoa diferente do que dava a conhecer de mim até ali e eu tinha de me preparar.
Hoje em dia, são poucas as actividades extra e todo o tempo que passo com ela é pouco, mesmo que seja todo! Muitas vezes dou por mim a olhar para ela com a certeza de que um dia ela vai crescer e que o cordão inevitavelmente terá de ser cortado – até para bem dela. Dou por mim a pensar que bom seria se nunca isso acontecesse. Que bom seria se a pudesse ter assim, por inteiro para mim. Se nunca ela tivesse de sofrer e se nunca tivesse que sofrer por ela.
E queria aprisionar essas coisas só nossas. Os momentos, tal como os vejo e sinto, e que, inevitavelmente, sinto escapar-me por entre os fios dos dias que vão correndo depressa de mais.
E queria tanto, meu Deus! E tanta coisa, que acabo sempre por me sentir pequena, perante tamanho sentimento.
*** Ciranda